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Santa Cecília
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Tomás Reggio |
Certa vez, o cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns assim
definiu a arte musical: "A música, que eleva a palavra e o sentimento até
a sua última expressão humana, interpreta o nosso coração e nos une ao Deus de
toda beleza e bondade". Podemos dizer que, na verdade, com suas palavras
ele nos traduziu a vida da mártir santa Cecília. A sua vida foi música pura,
cuja letra se tornou uma tradição cristã e cujos mistérios até hoje elevam os
sentimentos de nossa alma a Deus. Era de família romana pagã, nobre, rica e
influente. Estudiosa, adorava estudar música, principalmente a sacra, filosofia
e o Evangelho. Desde a infância era muito religiosa e, por decisão própria,
afastou-se dos prazeres da vida da Corte, para ser esposa de Cristo, pelo voto
secreto de virgindade. Os pais, acreditando que ela mudaria de idéia, acertaram
seu casamento com Valeriano, também da nobreza romana. Ao receber a triste
notícia, Cecília rezou pedindo proteção do seu anjo da guarda, de Maria e de
Deus, para não romper com o voto. Após as núpcias, Cecília contou ao marido que
era cristã e do seu compromisso de castidade. Disse, ainda, que para isso
estava sob a guarda de um anjo. Valeriano ficou comovido com a sinceridade da
esposa e prometeu também proteger sua pureza. Mas para isso queria ver tal
anjo. Ela o aconselhou a visitar o papa Urbano, que, devido à perseguição,
estava refugiado nas catacumbas. O jovem esposo foi acompanhado de seu irmão
Tibúrcio, ficou sabendo que antes era preciso acreditar na Palavra. Os dois
ouviram a longa pregação e, no final, converteram-se e foram batizados.
Valeriano cumpriu a promessa. Depois, um dia, ao chegar em casa, viu Cecília
rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda. Entretanto a denúncia de que Cecília
era cristã e da conversão do marido e do cunhado chegou às autoridades romanas.
Os três foram presos, ela em sua casa, os dois, quando ajudavam a sepultar os
corpos dos mártires nas catacumbas. Julgados, recusaram-se a renegar a fé e
foram decapitados. Primeiro, Valeriano e Turíbio, por último, Cecília. O
prefeito de Roma falou com ela em consideração às famílias ilustres a que
pertenciam, e exigiu que abandonassem a religião, sob pena de morte. Como
Cecília se negou, foi colocada no próprio balneário do seu palacete, para
morrer asfixiada pelos vapores. Mas saiu ilesa. Então foi tentada a
decapitação. O carrasco a golpeou três vezes e, mesmo assim, sua cabeça
permaneceu ligada ao corpo. Mortalmente ferida, ficou no chão três dias, durante
os quais animou os cristãos que foram vê-la a não renegarem a fé. Os soldados
pagãos que presenciaram tudo se converteram. O seu corpo foi enterrado nas
catacumbas romanas. Mais tarde, devido às sucessivas invasões ocorridas em
Roma, as relíquias de vários mártires sepultadas lá foram trasladadas para
inúmeras igrejas. As suas, entretanto, permaneceram perdidas naquelas ruínas
por muitos séculos. Mas no terreno do seu antigo palácio foi construída a
igreja de Santa Cecília, onde era celebrada a sua memória no dia 22 de novembro
já no século VI. Entre os anos 817 e 824, o papa Pascoal I teve uma visão de
santa Cecília e o seu caixão foi encontrado e aberto. E constatou-se, então,
que seu corpo permanecera intacto. Depois, foi fechado e colocado numa urna de
mármore sob o altar daquela igreja dedicada a ela. Outros séculos se passaram.
Em 1559, o cardeal Sfondrati ordenou nova abertura do esquife e viu-se que o
corpo permanecia da mesma forma. A devoção à sua santidade avançou pelos
séculos sempre acompanhada de incontáveis milagres. Santa Cecília é uma das
mais veneradas pelos fiéis cristãos, do Ocidente e do Oriente, na sua
tradicional festa do dia 22 de novembro. O seu nome vem citado no cânon da
missa e desde o século XV é celebrada como padroeira da música e do canto
sacro.
Tomás Reggio
Descendente de nobres, Tomás nasceu na cidade de Gênova, na
Itália, em 9 de janeiro de 1818. Aos vinte anos, decidiu dedicar-se à vida
religiosa, deixando para trás o luxo e uma carreira brilhante. Escolha essa
definitiva, pois, ao receber a ordenação sacerdotal, fez voto de pobreza.
Apesar da pouca idade, foi nomeado vice-reitor do seminário de Gênova, aos
vinte e cinco anos, e logo depois assumiu a titularidade da reitoria. Sua
dedicação na formação dos futuros sacerdotes era para que realmente eles
estivessem dispostos a um compromisso pleno e total de suas vidas, sem receios,
com Deus e com Igreja. Em 1877, foi consagrado bispo de uma diocese genovesa
muito pobre, chamada Ventimiglia, onde foi um pastor visionário e verdadeiro
guia espiritual do seu rebanho. Convocou três sínodos em quinze anos, criou
novas paróquias, renovou a liturgia e trabalhou para aumentar a atuação da
assistência social aos pobres e doentes da diocese. No primeiro ano de seu
bispado, fundou a Congregação das Religiosas de Santa Marta, com o objetivo de
acolher os mais pobres entre os pobres. Essas religiosas aprenderam com ele a
adorar a Deus em silêncio, a alimentar-se da oração, a encontrar, de joelhos,
as razões de uma fé que faz descobrir Cristo nos mais necessitados. Mais tarde,
dom Tomás direcionou a Congregação das Religiosas de Santa Marta para servir
como enfermeiras nos asilos, orfanatos e hospitais de misericórdia. Apesar da
idade avançada, quando um terremoto devastou a região dom Tomás agiu
rapidamente. Pedindo ajuda financeira aos nobres locais, imediatamente
construiu um orfanato e um hospital, que foram entregues aos cuidados de suas
religiosas. Também conseguiu verba para reconstruir sua diocese, recuperando
todas as igrejas e paróquias atingidas pela catástrofe. O papa Leão XIII nomeou
dom Tomás arcebispo de Gênova quando ele já contava com setenta e quatro anos
de idade. Apesar das dificuldades, entrou em ação e criou a Pontifícia
Faculdade Católica de Direito e a Escola Superior de Religião. Foi ele também
que celebrou em Roma o ritual religioso para o sepultamento do rei Humberto I,
assassinado em Monza em 1900. No ano seguinte, aceitou o convite para a festa
de inauguração da estátua do Redentor instalada no alto do monte de uma cidade
de sua diocese. Quando viajava, como sempre na terceira classe de um trem,
passou mal e não conseguiu chegar ao destino. Morreu, na cidade de Triora, em
22 de novembro de 1901. O papa João Paulo II proclamou-o bem-aventurado no ano
jubilar de 2000. As suas filhas, Religiosas de Santa Marta, hoje se encontram
servindo em muitos países de todos os continentes, até no Brasil. Por isso a
festa que celebra a sua lembrança, e que ocorre no dia de sua morte, é muito
comemorada pelos fiéis.
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